Histórias de todos os dias que a brisa da tarde faz entrar pela minha janela. Histórias com aroma de jasmim, salpicadas do azul que reveste o oceano longínquo...

14
Mai 09

Era uma vez...

 

Costumavam começar assim as histórias da minha avó. E mal começavam, eu ficava rendida àqueles mundos e àquelas gentes que tinham a capacidade de me fazer esquecer do meu espaço e do meu tempo... Gigantes, bruxas e fadas, princesas e rainhas malvadas, piratas e génios que chegavam nos seus tapetes voadores transportavam-me para longe...Para muito longe...

Gostava particularmente de ouvir histórias que me explicavam, de forma mágica, o que me rodeava. Ou seja, o vento existia porque um gigante ressonava alto... A chuva caía porque a fada do céu sentia falta do seu amor. E aquelas grossas gotas eram lágrimas da pobre rapariga. Já agora, deixem que vos conte a história da sétima filha do Imperador Celestial. Num sussurro, porque não quero despertar a ira de um homem tão poderoso...

Em tempos que já lá vão, o céu era muito, muito azul, sem nuvens.

O Imperador Celestial achava-o monótono e, por isso, ordenou às suas sete filhas que fiassem e tecessem para fazer um vestido para o céu…
Elas experimentaram, mas os panos saíram brancos e cinzentos. Assim, o céu continuava monótono e pálido.
A sétima filha do Imperador, a mais nova de todas, teve uma ideia inspirada pelas flores de sete cores do jardim: tecer panos coloridos.
Tingiu os fios com as sete cores das flores e conseguiu tecer um pano lindíssimo de sete cores. As irmãs ficaram admiradas e decidiram, todas juntas, vestir o céu de roupa feita com pano branco nos dias de sol, de roupa feita com pano cinzento nos dias de chuva e de roupa colorida ao nascer e ao pôr-do-sol.
O Imperador ficou tão contente que nomeou a sétima filha “tecelã”.
Ela tecia todos os dias. Quando se cansava, contemplava o mundo lá em baixo…
Uma vez, deu conta de um rapaz que cultivava a terra e que, quando se cansava, conversava carinhosamente com o velho boi que o ajudava…
O rapaz era o Pastor. Um dia, o boi disse-lhe:
- Amanhã, as sete filhas do Imperador Celestial vêm à Terra tomar banho. Se apanhares e esconderes a roupa de uma, podes casar com ela.

O rapaz aceitou a proposta do boi. E assim aconteceu. Quando as filhas do Imperador vieram tomar banho, ele pôs-se de atalaia.

Enquanto seis das irmãs conseguiram apanhar a roupa e voar para o céu, a mais nova, a tecelã, ficou. Ao reconhecer o rapaz, aceitou casar com ele.
Passaram dois anos e a tecelã deu à luz um menino e uma menina. A família tinha uma vida muito feliz.
Sete anos passaram no mundo e sete dias no céu. O Imperador dava uma audiência às filhas e percebeu que faltava a “tecelã”. Ordenou que a fossem buscar.
Ela não queria voltar, pois era muito feliz, mas levaram-na à força. O Pastor, agarrando nos filhos, foi atrás dela.
O boi deu-lhe um dos seus chifres para que fizesse um barco e seguisse para o céu. Mas o Imperador estendeu a mão e desenhou um rio tão caudaloso que separou a tecelã e o pastor.
Nesse momento, multidões e multidões de pegas e outros pássaros formaram uma ponte sobre o Rio de Prata para juntar a família.
O Imperador Celestial acabou por permitir que a Tecelã se encontrasse com o marido e os filhos, na Ponte das Pegas, mas apenas uma vez por ano.
Hoje o céu veste-se de panos cinzentos, mas a voz da minha avó ilumina-o como se o sol brilhasse intensamente. Olho para cima e suspiro. Um pequeno pássaro acaba de levantar voo. Um voo suave, em direcção ao horizonte...

 

publicado por I.M. às 15:58

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